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Sócio-torcedor ou sofredor? (por Renato Maurício Prado)

Extraído da coluna Renato Maurício Prado, O Globo, 15.09.2013

Saudado pelos nossos grandes clubes como a salvação de suas combalidas finanças, espécie de Santo Graal da bola, o programa de sócio-torcedor tem sido alvo de muitas críticas. Apesar do apoio da Ambev, que turbina sua atratividade com descontos em produtos de empresas ligadas à campanha, o objetivo maior, que é o de facilitar a vida do associado, ainda está longe de ser alcançado. 

Dia sim, outro também, recebo em minha caixa postal eletrônica e-mails queixosos como o que se segue e antecedeu ao jogo da última quinta-feira, no Maracanã: Fla 2 x 1 Santos. Esta é apenas uma das inúmeras reclamações, provenientes de várias torcidas, pelos mais diversos motivos. Não está na hora de os dirigentes ouvirem o que seus clientes têm a dizer? Se não o fizerem, logo esses projetos estarão fadados ao fracasso. 


"Caro Renato, sou torcedor assíduo do Flamengo. Vou a todos os jogos, não perco um. Sou um apaixonado. Sócio do Clube, apoiei a diretoria atual e acho que o trabalho vem sendo muito bem executado e se tivermos continuidade, iremos longe. Sim no futebol, estamos longe de honrar nossa camisa, mas acho que vale um ano de sacrifício para temporadas subsequentes de glorias". 


"A diretoria, porém, não está imune a críticas. E estou revoltado com o programa de Sócio-Torcedor. Fiz o plano de R$ 69,90 por mês, e convenci meus irmãos a também aderirem, embora apenas um deles vá aos jogos pois o outro ainda é muito pequeno. Mas ando insatisfeito com os benefícios. Se é que se podem chamar assim: 


"Eu não me aproveito da meia entrada, visto que não sou menor de idade e tampouco idoso. Portanto com o sócio torcedor tenho direito a pagar 50% do valor do ingresso. É benefício ? O futebol card do Itaú dá o mesmo. Ah, você pode carregar o cartão! Sim, mas no futebol card também pode..." 


"Ok. Mas eu como trouxa continuei pagando. Apesar de o Flamengo andar jogando em Brasília e me deixando com menos vantagens ainda. E aí, quando chega o jogo com o Santos, no Maracanã, e tento comprar ingresso no dia da partida, qual a resposta? "O senhor não pode mais comprar pelo Sócio Torcedor, só na bilheteria agora". 


"Ora, deixei para o dia do jogo porque sabia que os ingressos não se esgotariam e haveria muitos lugares disponíveis. Ingenuamente, raciocinei: Já que tenho Sócio-Torcedor, um dos benefícios seria a comodidade de comprar quando eu bem entendesse, desde que ainda houvesse ingresso disponível". 


"Veja bem, se ainda tivesse que retirar o tíquete na bilheteria, até entenderia não poder comprar no dia. Mas se o ingresso é uma recarga no cartão, qual o motivo de não poder comprá-lo? Resposta do Marketing: "Infelizmente não depende só da gente". 


"Só me restou dizer: "Infelizmente, enquanto vocês tratarem a torcida assim, terão o mesmo tratamento de volta. Cancelei o meu sócio torcedor e os do meus irmãos hoje. Volto quando o clube der para torcida, o mesmo valor que ela dá para o clube". 


"Ah se quiserem saber o que significa a palavra benefício, aqui estão alguns que eu poderia sugerir": vantagens por assiduidade; descontos consideráveis, proporcionais a mensalidade paga; comodidade de comprar no dia que quiser e, principalmente, um time digno". 


"O Flamengo eu continuarei apoiando, mas este programa enquanto for assim, estou fora. Hoje (quinta-feira passada) vou ao jogo. Só não decidi se comprarei ingresso para dar dinheiro ao consórcio ou se comprarei de cambista..." 


"Atenciosamente, Eduardo Veiga, tão apaixonado quanto qualquer outro Rubro Negro". 

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