quarta-feira

A fase não é mole (Fernando Calazans)

Então teremos enfim a presença de Silas, novo técnico do Flamengo, no banco de reservas... Opa! Calma aí. Não sei não. Não sei se teremos a presença de Silas no banco, no jogo de hoje contra o Cruzeiro. Ainda não sei. Havia (ou há) a ameaça de que o treinador, mesmo antes de estrear, já tenha de cumprir suspensão por causa de uma atitude condenável num jogo do... Grêmio.

   Pode ser até que já se saiba se ele estará à beira do campo ou não. Mas, vocês me desculpem, não pude resistir à tentação de abrir a coluna desta maneira aí em cima. Meus caros amigos, ilustres rubro-negros, a fase não é mole. A fase não está pra brincadeira. O técnico do Flamengo ameaçado de suspensão antes da estreia. Há coisas que só acontecem ao Botafogo? Mentira. Lorota boa.

  E o que dizer então do Flamengo? Deem uma espiadinha, façam uma revisão, um retrospecto daquilo que aconteceu no Flamengo - e continua acontecendo - desde que o time se sagrou heroicamente campeão brasileiro de 2009. Parece que cometeu um pecado. Pecado capital. Desde o fim do ano passado, não para de pagar por esse estranho pecado de se sagrar campeão do Brasil. Vou me poupar da tarefa de enumerar episódios com jogadores, ídolos, capitães, técnicos, dirigentes, jogos e treinos do Flamengo, só para que vocês se deem ao trabalho de recordar e guardar o que já aconteceuno clube neste 2010. Ampliem seus arquivos. É coisa de louco.

   Em suas ponderações, Silas tem me deixado boa impressão nesses dois ou três dias de Flamengo. Uma das sentenças de que gostei foi esta aqui: "Se a bola bate na trave e não entra, a culpa é do técnico? E se a bola bate nas costas do goleiro e entra, é porque o técnico é bom?"

   Eis o que me parece uma interpretação realista da importância do técnico de futebol, que outra cara amiga, Dona Imprensa, insiste em supervalorizar, seguindo as normas da sociedade do espetáculo, da amplificação, do sensacionalismo, da celebridade. Isso, quando não é mesmo por puro e provinciano deslumbramento com os treinadores.  Silas parece ser mais sensato. Olhem esta outra declaração aqui: "O Vicente del Bosque ganhou uma Copa do Mundo de pernas cruzadas, quas sem falar uma palavra."

  Tudo bem, mas aqui pode haver uma pequena contradição. Silas foi expulso pelo juiz Marcelo de Lima Henrique, quando era do Grêmio, por reclamar desrespeitosamente da arbitragem, mesmo já tendo sido advertido. Será que o Silas segue o princípio do "façam o que eu falo, mas não façam o que eu faço?"  Espero que não. De tudo que ele disse, só não gostei de uma pequena coisa: "Nunca vi jogador vaiado melhorar." Está certo que Silas queira harmonizar o relacionamento entre a torcida e o time, está certíssimo, mas não pode cercear o senso crítico da torcida, que tem duas formas absolutamente legítimas de se manifestar: aplaudindo e vaiando.

   Se puder e se dever aplaudir, ótimo.  É porque as coisas estão caminhando bem.  Se puder e dever vaiar, é um alerta, é um aviso ao qual Silas deve dar atenção. No mais, boa sorte para ele. Todo técnico novo, jovem como Silas, é uma esperança que se abre no futebol brasileiro.

(publicado no jornal O GLOBO, Caderno Esportes, 01.09.2010)